quarta-feira, 5 de abril de 2017

Pesquisas da UFSCar avaliam as condições dos mananciais que fornecem água para São Carlos e região

Ribeirão Feijão tem parte de suas nascentes em São Carlos. Foto: Escola da Floresta (reprodução)
 

Estudos apontam que uso inadequado dos mananciais pode comprometer o fornecimento de água no futuro

Desde 1993, pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Internacional de Ecologia (IIE) desenvolvem estudos relacionados aos mananciais de água que abastecem São Carlos e municípios vizinhos. Por exemplo, há pesquisas cujo o objetivo é a preservação dos recursos hídricos do principal manancial de São Carlos e da região que são as bacias do Ribeirão Feijão e Itaqueri (Broa). Uma parcela dessas pesquisas são conduzidas por Francisco Antonio Dupas, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCam) da UFSCar e da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais.

De acordo com o pesquisador, historicamente, o homem sempre se fixou perto de fontes de água por questões estratégicas de uso desse recurso natural. No entanto, esses recursos são finitos e recebem até hoje todo o tipo de esgotamento sanitário urbano e da agricultura, além de sofrer com o desmatamento das regiões ribeirinhas e matas ciliares. "Tudo o que lançamos no solo e na superfície dos rios também contamina as águas subterrâneas de aquíferos de onde o homem já extrai muita água. Só que essa água, além de já estar parcialmente contaminada, está em processo de drástica redução de nível, ou seja, está sendo usada em excesso", afirma o docente. Para Dupas, a reserva subterrânea de água tem que ser poupada para situações emergenciais e o uso dos maiores volumes deveria ser da água superficial que é mais abundante e de mais fácil reposição.

A bacia hidrográfica do Ribeirão Feijão tem parte de suas nascentes em São Carlos, possui 230 km² e integra a bacia do rio Jacaré-Guaçu. Regionalmente, o Ribeirão também contempla os municípios de Analândia, Brotas e Itirapina, locais onde seu uso não é apenas como manancial, mas também para o lazer. A produção de água para São Carlos conta com a participação desses municípios e, neste contexto, tem destaque o Rio Itaqueri (Broa) que é um potencial fornecedor. A cidade também utiliza água do Rio Monjolinho, mas Dupas faz um alerta importante: "São Carlos praticamente já urbanizou o Monjolinho e logo ele não estará mais apto para o abastecimento devido à qualidade da água que será muito ruim".  

O pesquisador da UFSCar afirma que, estrategicamente, o Ribeirão Feijão tem muita importância local pela disponibilidade de água de superfície e como zona de recarga (região por onde um aquífero é recarregado ou recebe a infiltração da água de superfície). "No entanto, apesar de leis claras que favorecem a manutenção da qualidade e da quantidade de água do Ribeirão Feijão, persiste um embate entre interesses econômicos que ampliam a sua degradação, resultando na tentativa de reduzir parâmetros ambientais que garantem a disponibilidade de água atual e para o futuro", destaca o docente. Dupas explica que, assim como os rios urbanos de São Carlos, o Feijão está caminhando para a degradação e, que sem ele, o fornecimento de água ficará comprometido. "Sem o Feijão, as opções de água na região estarão restritas ao aquífero subterrâneo que tem um tempo de vida limitado devido ao rebaixamento, como pode ser constatado em poços mais antigos da cidade. A situação a curto prazo ainda é confortável, mas a longo prazo não é. Devemos pensar a longo prazo preservando o que temos de bom e barato, deixando a reserva de água subterrânea para o futuro", defende o pesquisador. 

Ele acredita que o Poder Executivo municipal deve se valer de informações e dados científicos para tomar decisões que permitam o crescimento da cidade, mas garantam a qualidade e quantidade de água para o fornecimento do município. "Implantar loteamentos e indústrias em áreas de recarga do aquífero e de água superficial, por exemplo, contamina a própria água necessária para o consumo dessa população. A contaminação superficial e subterrânea eleva em até 300 vezes os gastos para o tratamento da água, sem a garantia da qualidade em relação à presença de hormônios, metais pesados e agroquímicos", garante o docente, acrescentando que é preciso informar a população sobre os reais problemas de conservação e uso da água do Ribeirão Feijão, a fim de conscientizá-la para ações de preservação desse importante manancial de São Carlos e região. 

As conquistas de maior destaque durante esses anos de pesquisa em prol da preservação dos recursos hídricos locais foram a inclusão do Ribeirão Feijão e do Monjolinho como mananciais urbanos no Plano Diretor de São Carlos em 2005, a legislação das Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais (Aprem) do Município; e na revisão do Plano Diretor de São Carlos, realizada em 2016, os rios foram mantidos como áreas de proteção. Os estudos que amparam essas decisões foram realizados com recursos financeiros da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

De acordo com o pesquisador, a proposta agora é implantar o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e o Pagamento por Serviços Ecossistêmicos (PSE) - que consistem na transferência de recursos (monetários ou outros) a quem ajuda a manter a preservação ambiental. "Fizemos estudos em todas as camadas sociais e bairros da cidade e verificamos que a população urbana está disposta a contribuir com a recuperação do manancial. Estamos propondo que essa contribuição seja feita por meio da conta de água e esse dinheiro será repassado, via Saae [Serviço Autônomo de Água e Esgoto São Carlos], aos proprietários das terras diretamente ou ao Comitê de Bacias. Assim, o proprietário de terras passa a receber para proteger e recuperar a bacia hidrográfica, promovendo atividades de baixo impacto ambiental", detalha o professor.

Dupas afirma que já está em fase final a elaboração de um projeto de lei para viabilizar a implantação do PSA. Em relação à pesquisa, "os nossos próximos passos são definir os valores financeiros para cada proprietário que venha  a participar do projeto de recuperação via PSA, e a construção de um projeto piloto, junto com o Comitê de Bacias, para a recuperação de áreas degradadas em propriedades particulares", aponta Francisco Dupas. "Nosso grande desafio é enfrentar um problema que se estende por todo o País, que é o descaso com o planejamento das cidades, privilegiando o interesse econômico por meio da especulação imobiliária. Apesar dos problemas enfrentados, acredito e sou otimista que a comunidade será esclarecida da importância do Ribeirão Feijão e que os poderes executivos de São Carlos e região farão o melhor para a população, pensando, principalmente, no futuro das nossas próximas gerações", conclui o docente.

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